terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Amor Eterno de Deus (Malaquias 1.1-5)

Este sermão faz parte de uma série de exposições no livro do profeta Malaquias, proferidas na Segunda Igreja Batista em Campo Maior, no ano de 2008, nas noites de quarta feira, pelo pastor Marcus Paixão.
1 Sentença pronunciada pelo SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias. 2 Eu vos tenho amado, diz o SENHOR; mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Não foi Esaú irmão de Jacó? -- disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó, 3 porém aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma assolação e dei a sua herança aos chacais do deserto. 4 Se Edom diz: Fomos destruídos, porém tornaremos a edificar as ruínas, então, diz o SENHOR dos Exércitos: Eles edificarão, mas eu destruirei; e Edom será chamado Terra-De-Perversidade e Povo-Contra-Quem-O-SENHOR-Está-Irado-Para-Sempre. 5 Os vossos olhos o verão, e vós direis: Grande é o SENHOR também fora dos limites de Israel.

Malaquias é um profeta pouco conhecido de todos nós. A tradução do seu nome significa literalmente “meu mensageiro”. Ele é um dos três profetas pós-exílico, que atuaram após a saída de Israel do cativeiro. Não podemos esquecer deste grande período em que Israel estava aprisionado por uma nação ímpia, que não conhecia o Senhor. Israel passou 70 anos aprisionados, longe de sua pátria, da terra da promessa, da cidade santa e do templo, onde toda a nação se congregava para oferecer sacrifícios ao Deus eterno e adorá-lo continuamente. Isaías, que começou seu ministério profético em 740 a.C. Cerca de 280 anos antes de Malaquias, já havia revelado que Israel seria feito escravo da Babilônia como uma forma de julgamento e disciplina divina, e que, 70 anos mais tarde, o próprio Deus os libertaria do cativeiro pelas mãos de Ciro, rei da Pérsia.
Todos esses acontecimentos eram levados a cabo pela vontade do Senhor. Deus estava provando a sua fidelidade em cumprir a sua aliança eterna com Israel. Deus estava revelando, mais uma vez, que era o Senhor do Pacto e não iria quebrá-lo. Era Deus mesmo quem dirigia todos os acontecimentos. Ciro, rei da Pérsia, é retratado pelo profeta Isaías como sendo o “pastor” e o “ungido” de Deus para ser o instrumento que o Senhor usaria para acabar com o cativeiro dos seus filhos (Is 45.1). A Palavra de Deus tem cumprimento exatamente na data em que estava prevista, ou seja, após os 70 anos de cativeiro babilônico, Ciro destrona o rei babilônico e conquista a terra dos caldeus. Ele então permite que os israelitas voltem para sua terra e reconstruam o templo. Nessa época, Jerusalém estava completamente arruinada. A cidade não tinha mais suas fortes muralhas que as protegiam contra o inimigo, Jerusalém não tinha mais templo, ele fora completamente destruído pelos babilônicos e saqueado os seus utensílios sagrados. Ela era um lugar desolado e penoso. Mas, em 516 o templo já estava reconstruído. Em 456 a população, em um segundo movimento, retorna a Jerusalém. Em 432 as muralhas da cidade são reconstruídas por Neemias. Tudo parecia está certo em Jerusalém. Parece que a nação escolhida estava novamente se voltando para Deus. Mas, apesar da misericórdia de Deus em libertá-los do cativeiro como estava predito, Israel continuava pecando contra Deus. Os cultos eram fingidos, não passavam de rituais mortos e insinceros. Os sacrifícios que eram levados ao altar de Deus eram abominação para o Senhor. Os sacerdotes não eram honestos no serviço do templo e desprezavam a Deus. O povo estava negligenciando suas ofertas e dízimos; a população em geral não obedecia a Lei e estavam desobedecendo a Deus, contraindo casamentos com mulheres pagãs de outras nações.
Foi nesse contexto que o profeta Malaquias se levantou. Ele era a voz de Deus contra uma nação que teimava em andar em desobediência ao seu Criador. Malaquias era a última voz profética que Deus levantaria na velha aliança. Israel precisava dar ouvido a esse último chamado de Deus.
Malaquias é muito claro em sua profecia. Ele foi levantado por Deus para trazer uma sentença contra Israel. Geralmente um oráculo profético que iniciava com essa palavra (no hebraico massá) representava um julgamento condenatório muito doloroso contra uma cidade ou contra uma pessoa. Era como se Deus colocasse sobre os ombros do seu povo uma carga muito pesada a qual eles não pudessem suportar. Mas Israel agora tinha de percorrer um longo caminho com essa carga. Essa profecia tem caráter condicional, ou seja, se Israel se arrependesse do seu pecado e regressasse para o Senhor, a nação seria perdoada, caso contrário, se Israel permanecesse em desobediência, receberiam a devida punição. Malaquias anunciara que a nação infiel receberia o castigo pelo seu desprezo ao Senhor e seu relaxamento espiritual e moral. Esta sentença condenatória já havia sido lançada sobre várias nações: A profecia de Naum contra a poderosa cidade de Nínive tem início com a mesma declaração “sentença contra Nínive (Nm 1.1)”. Quando, antes de Malaquias, Zacarias profetizou contra Israel, ele usou a mesma linguagem: “Sentença contra Israel (Zc 12.1)” . Isaías, profetizando contra as nações, usou diversas vezes esse oráculo de condenação (Is 13.1; 15.1; 17.1; 19.1; 21.1, 11, 13; 23.1). Agora, por não fazer caso do Senhor, Israel sentiria o peso de Deus mais uma vez.
Era eminente a condenação de Israel devido ao seu pecado. Essa declaração não era algo fácil ou prazeroso para Malaquias. Sua tarefa era extremamente penosa e difícil. A sua própria gente receberia, uma vez mais, o furor do Senhor. Após tantos anos no exílio, novamente Israel estava preste a ser julgada pelo Senhor dos Exércitos.
O pecado de Israel contra o Deus da aliança eterna demonstrava a sua completa ingratidão. Mesmo sendo um oráculo de juízo e condenação, as palavras iniciais de Deus para com Israel são: “Eu vos tenho amado (Ml1.2)”. É impressionante como essa declaração do amor de Deus por Israel vem logo no início de um oráculo de condenação. O amor de Deus é declarado de maneira direta e clara. Israel era o povo amado pelo Senhor, mas não correspondia a esse tão grande amor.

1 - O amor pactual de Deus por Israel
Ao longo de toda a história de Israel Deus tem demonstrado a sua beneficência em os favorecer e os tem guiado com sua poderosa mão. Israel sempre foi amado pelo Senhor desde os séculos. Mesmo antes que houvesse mundo, antes mesmo que Deus tivesse criado qualquer coisa, Israel já era amado pelo Senhor no seu propósito eterno. Foi o próprio Deus quem formou Israel, quem criou a nação inteira. A respeito de Israel, Deus mesmo disse: “Assim diz o SENHOR, que te redime, o mesmo que te formou desde o ventre materno” (Is 44.24). Com Abraão esse plano é revelado e continuado. A Abraão Deus declarou: “de ti farei uma grande nação” (Gn 12.2). Deus é o criador e Pai de Israel.
Através de Malaquias Deus estava mais uma vez revelando esse amor. A nação, embora estivesse vivendo sem se aperceber dessa verdade tão sublime, ainda era alvo do amor pactual de Deus: “Eu vos tenho amado, diz o Senhor”. Essa declaração é esplendida e graciosa, pois demonstra que o amor de Deus é duradouro e sem fim. Mesmo após tantos pecados e desobediências, Israel ainda é alvo do amor de Deus.
A nação nos dias de Malaquias não acreditava mais no amor de Deus. Eles não ligavam para as promessas contidas na Lei e simplesmente não faziam caso de Deus. Passaram anos no cativeiro da Babilônia e agora não tinha mais a convicção de que eram alvos do amor de Deus e seus cuidados especiais. A palavra deles com relação a afirmação do amor de Deus para com eles era: “em que nos tens amado?” Vejam como eles se esqueceram dos grandes livramentos que o Senhor fez em seu favor. Esqueceram que enquanto ainda eram uma pequena família, Jacó e seus doze filhos, eles foram livres do extermínio que a fome fatalmente os levaria. Como José foi vendido pelos seus irmãos como escravo e se tornou o governador de todo o Egito. Como Deus, pelas mãos de José predisse que grande fome assolaria toda a terra por um período de sete anos e só o Egito se preparou para suportar esses dias de escassez. E por que só o Egito se preparou? Deus estava demonstrando seu amor em preservar a José, para que através dele toda a sua família fosse poupada. Veja como Deus transformou o mal em bem por amor a Israel. Como o Senhor os fortalecia quando eles estavam sendo perseguidos e oprimidos pelo faraó, que tentava matá-los: “Mas, quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam...” (Ex 1.12a). Como Deus os libertou da escravidão dos egípcios de maneira tão grandiosa que todo o Egito foi marcado com a morte, pois não havia uma casa em que não houvesse luto; mas somente os filhos de Israel foram poupados. Mas agora os israelitas abriam à boca e perguntavam: “Em que nos tens amado?” Quanta ingratidão deste povo para com o grande Deus IAVÉ. Eles esqueceram que durante os quarenta anos em que passaram no deserto, naquele ambiente inóspito e seco, era Deus quem os alimentava quando enviava o maná e as codornizes. Deus matava a sede de todos eles e lhes dava de beber, mesmo que tivesse que fazer a água sair de dentro da rocha. Mas, agora, eles diziam “em que nos tens amado?”.
Assim somos nós muitas vezes. Somos como Israel e não conseguimos ver o amor de Deus tão presente em nossas vidas. Não conseguimos ver que Deus tanto nos ama e cuida de cada um de nós em todos os momentos de nossas vidas. Esquecemos que Deus nos dá vida e disposição para o trabalho. A saúde que possuímos vem da generosidade de Deus. É Ele quem nos alimenta todos os dias com aquilo que nos basta para vivermos bem. Queridos irmãos, como somos parecidos com Israel nesse ponto. Chegamos mesmo a duvidar se somos amados por Deus. Muitas são as queixas: “se Deus me amasse, tal coisa não teria acontecido comigo!” ou “como é que Deus me ama e agora mesmo eu acabo de perder meu emprego?”. É justamente o contrário que ocorre conosco. Essas coisas vêm sobre nós para nos mostrar o quanto Deus nos ama. Ele nos ama a tal ponto que suprirá todas as nossas necessidades mesmo quando estivermos enfrentando um momento difícil na vida. Esses não são momentos para praguejar ou para duvidar do amor de Deus, são momentos de calarmos e olharmos para as nossas Bíblias e vermos como Deus sempre tem agido em favor do seu povo. Devemos esperar em Deus com a certeza de que ele vai agir. Quando Moisés estava encurralado entre o mar vermelho e numeroso exército de Faraó, ele percebeu que estava em uma situação extremamente complicada. Deus disse a ele “Moisés porque clamas a mim? Diz aos filhos de Israel que marchem” (Ex 14.15). Não duvide de Deus nunca, continue seguindo a diante confiado no Senhor.
A grande prova do amor pactual de Deus
Mas em resposta ao questionamento dos israelitas nos tempos de Malaquias Deus lhes dar uma resposta do seu amor que nos deixa inteiramente perplexos. Deus os faz lembrar da história, dos patriarcas. Ele leva os infiéis israelitas que estavam duvidando do amor de Deus por eles a se lembrarem dos tempos de Isaque e Rebeca. Isaque foi pai de dois filhos gêmeos: Esaú e Jacó. Deus os lembra da história “Não foi Esaú irmão de Jacó? -- disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó, 3 porém aborreci a Esaú.”. Aqui está a grande prova do amor de Deus por Israel. “Amei a Jacó!” Deus revela seu amor baseado na eleição de Israel. Jacó é o patriarca que depois teve seu nome mudado para Israel, e foram de seus 12 filhos que se originaram as 12 tribos de Israel. Rebeca de uma só barrigada concebeu a dois filhos. De Esaú, diz a Bíblia que ele cresceu e foi um valente caçador e homem da floresta. A cerca de Jacó, se diz que era um homem pacato e que habitava nas tendas (Gn 25.27). Que contraste entre os dois. Um era corajoso e o outro covarde. Mas Deus disse: “Amei a Jacó!”. Duas nações estavam no ventre de Rebeca. De Jacó originou-se Israel. De Esaú se originou Edom. Desde o ventre, Israel foi formado e amado pelo Senhor. A grande prova poderia ser vista naqueles dias, pois Israel estava novamente em Jerusalém. Depois de 70 anos de cativeiro na Babilônia, eles estavam de volta à terra da promessa e a cidade santa. Lembremos ainda que Israel tinha sido completamente destruída, que o templo onde os sacrifícios eram queimados a Deus também tinha sido saqueado e destruído e as grande muralhas de Jerusalém haviam sido derribadas. A terra de Israel estava um caos e em total ruína. Mas agora, pela mão de Deus, o povo cativo foi libertado do cativeiro, o templo que foi saqueado e destruído estava novamente em pé, e as muralhas estavam mais uma vez levantadas ao redor de Israel. Porque Deus fez isso? A resposta é “Amei a Jacó!”
Diferentemente de Israel, Deus não tratou da mesma forma a Edom, a nação que teve sua origem em Esaú. Edom estava fora da aliança. Não houve nenhum pacto com eles e nem não tão pouco promessas de amor. Edom sempre foi uma nação que perseguia e se opunha contra Israel. Quando Israel ainda estava no deserto, caminhando rumo à terra da promessa, eles precisaram cruzar o território dos edomitas. Moisés, o líder do povo amorosamente pede ao rei dos edomitas que permita a passagem de Israel pelas suas terras. Moisés faz o pedido usando a seguinte expressão “assim diz teu irmão Israel” (Nm 20.14). Veja a ternura das palavras “teu irmão Israel”. A resposta do rei edomita foi um petulante não. Ele disse: “não passarás!” Assim como Israel, séculos depois os edomitas foram destruídos pelos nabateus. As suas cidades foram saqueadas e devastadas. Porém, a grande diferença do povo da aliança logo se vê. Deus levou Israel de volta para sua terra e sua cidade reconstruída porque Deus os ama. Edom nunca mais foi reerguida, jamais foi reconstruída. Ora, Deus mesmo disse: “Se Edom diz: Fomos destruídos, porém tornaremos a edificar as ruínas, então, diz o SENHOR dos Exércitos: Eles edificarão, mas eu destruirei; e Edom será chamado Terra-De-Perversidade e Povo-Contra-Quem-O-SENHOR-Está-Irado-Para-Sempre”. Por que tanto desfavor contra Edom? A resposta de Deus é: “aborreci a Esaú.”. A expressão hebraica traduzida como “ABORRECER” pode ser traduzida literalmente por “ODIAR, DETESTAR, ABOMINAR”. Podemos constatar essa verdade nas seguintes passagens: Pv 6.16 - Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina. Pv 10.12,18 - O ódio excita contendas, mas o amor cobre todos os pecados... O que encobre o ódio tem lábios falsos, e o que divulga má fama é um insensato. Sl 119.104 - Pelos teus mandamentos alcancei entendimento; por isso odeio todo falso caminho. 1Rs 22.8 - Entäo disse o rei de Israel a Jeosafá: Ainda há um homem por quem podemos consultar ao SENHOR; porém eu o odeio, porque nunca profetiza de mim o que é bom... . Am 5.21 - Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembléias solenes näo me exalaräo bom cheiro.
Na realidade, se formos olhar acuradamente para Esaú e Jacó, vamos perceber que Jacó chantageou seu irmão faminto e ainda enganou o seu pai se fazendo passar por Esaú. Não havia nada de bom em Jacó que inclinasse Deus a amá-lo. Ele demonstrara ser mais miserável do que seu irmão. No entanto “disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó, porém aborreci a Esaú.” Jacó foi amado por Deus soberanamente. Não por motivo algum que houvesse nele. Quanto a Esaú, não é correto afirmar que Deus “AMOU MENOS” a Esaú como alguns têm dito. Não se trata de menos amor, trata-se do oposto de amor: ódio. O texto nos apresenta um contraste simples: amor e ódio. Esaú foi preterido por Deus com justiça e não devemos nos impressionar com esse fato. Como disse certa vez um puritano: “Eu até consigo entender que Deus odeie a Esaú, mas Deus amar a Jacó é o fato que me impressiona”.
Deus não desamparou Israel como eles acreditavam. A grande prova do amor de Deus e da eleição de Israel era que eles estavam novamente em paz. Mas eles não reconheciam isso. Não se sentiam amados por Deus e por isso o desprezavam completamente.
Assim como a Israel, Deus também tem nos amado. Ele nos deu a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Deu-nos o Seu Espírito Santo para nos iluminar e capacitar em todas as coisas. Deus nos adotou e agora podemos chamá-lo de Pai. Que prova tão sublime de amor temos nós. Paulo disse “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Rm 5.8). Deus nos ama e esse amor é eterno. “Antes da fundação do mundo” (Ef 1.4). Assim como Deus provou seu amor a Israel lembrando-lhes da sua eleição, devemos nos alegrar em Cristo, pois também fomos amados por Deus. “Deus prova o seu amor” diz o texto sagrado, e a maior maneira para demonstrar esse fato, foi quando ele enviou a Jesus Cristo para morrer em nosso lugar. Queridos irmãos, mesmo que venhamos a caminhar pelo vale da sombra da morte, não temeremos! O Senhor está do nosso lado! A maior prova de amor do universo inteiro nos foi demonstrada: Cristo Jesus. Nossos inimigos não serão levantados da ruína, antes serão deixados na morte, enquanto que nós, mesmo na maior dor que venhamos a sentir, sempre saberemos que Deus nos ama e não nos abandonará jamais.

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